sexta-feira, 9 de abril de 2010

E tudo continua igual

São tantas horas no trânsito que vocês não imaginam o quanto de coisas passam na minha cabeça, quantas reflexões, quantas indignações com as coisas que acontecem diante dos meus olhos enquanto eu estou guiando meu carro prata. Ontem foi uma dia típico! Foram cinco horas sentada no carro prata! Sim, eu escrevi certo, cinco horas. Ah, não, não viajei entre São Paulo e o interior. Foi um apenas dentro da minha querida São Paulo.

Mas, na verdade, o que realmente tem me assustado não é a quantidade inimaginável de carros que cresce a cada dia circulando em vias esburacadas, alagadas e com má sinalização. O que me assombra de verdade é o comportamento do ser humano no que chamamos de “trânsito” e as reações em volta das barbáries que acontecem todos os dias na selva de pedras.

Ontem estava parada há uma hora na Avenida Berrini quando vejo um homem filmando algo no chão. Pensei que estivesse registrando uma nova cratera que se abriu na cidade depois de tanta chuva. Passei ao lado, esticando o pescoço para ver melhor, e qual não foi minha surpresa quando vejo um pessoa morta, coberta por um pequeno saco preto onde não era possível cobrir todo o corpo da vítima. O cenário em volta disto era policiais fumando, pessoas esperando o ônibus, pedestres atravessando apressados, tudo normal como se o que estivesse ali no chão fosse apenas mais um “carro quebrado” que atrapalha o trânsito.

Perdeu-se o respeito pelo ser humano, vivo ou morto. Enquanto vivos, se tratam como marginais no trânsito: há xingamentos, dedos apontados, pés em retrovisores. Parece que cada um quer descontar no outro toda a ira e frustração acumulada dentro de si. Sempre me questiono de onde pode vir tanta raiva, não pode ser apenas por que se levou uma fechada no trânsito, não pode ser.

E infelizmente, isto acaba em mortes, atropelamentos, acidentes. No fim, aquele que há pouco tempo esbravejava para os quatro ventos, agora descansa na calçada, enquanto tudo, exatamente tudo continua igual ao seu redor.



3 comentários:

  1. Ê sampa que as vezes adoro e as vezes nem tanto! mas entre os que amam e os que odeiam, tudo que segue pela superfície (quando estou ai, uso o metrô) segue mesmo entre o tietê e o pinheiros cotidianamente igual. =) são adoniran, valei-nos!

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  2. "Minha filha",

    As aulas da Solange foram boas, heim? Adorei seu texto pela profundidade e pela forma gostosa e descontraída... acho que dá um livro!
    Há algum tempo li que as pessoas são agressivas no trânsito devido a ausência de vínculo, porque quem se viu xingando o vizinho, o primo ou sei lá quando achou que era um estranho ficou constrangido e etc. Mas aí eu pergunto, só se respeita quem se conhece? Onde vamos parar?
    Bjos

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  3. "Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu..."

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